Com a remontagem da primeira peça encenada na cidade em 1877, lançamento de livro e abertura de exposição, artistas e produtores locais lembram a vocação de Itaúna para as artes cênicas. Além de consistente produção artística, a cidade mantém casas de espetáculos e tem até registro do fazer teatral como patrimônio cultural imaterial.

 

Pouca gente sabe, mas o teatro e a tradição nas artes cênicas talvez sejam a marca e assinatura cultural mais representativa da história e da vida inteligente de Itaúna, cidade com quase 100 mil habitantes, localizada no Centro-Oeste mineiro. Os registros mostram que a primeira peça teatral foi encenada em Itaúna antes mesmo da sua existência como município. 







O ano era 1877, quando foram encenadas duas peças teatrais em um galpão improvisado no Largo da Matriz do antigo arraial de Sant'Anna de São João Acima, então pertencente a Pará de Minas. Itaúna só seria emancipada em 1901 e se tornado cidade apenas 14 anos depois. 

A primeira peça foi A Esperteza do Rato, do dramaturgo português Rangel Lima, que estreou em Lisboa 10 anos antes. A segunda, uma comédia brasileira chamada A beata da Mantilha, de Francisco Joaquim Bithencourt. 

 

A intensa movimentação cultural que se seguiu deixou evidente que o galpão do Largo da Matriz já não se mostrava adequado à importância que o teatro passou a ter na vida local. Assim, foi inaugurado em outubro de 1890 o Theatro Sant'Anna, com a apresentação da peça Mãe, um drama de autoria de José de Alencar.

 

A outra consequência determinante para a consolidação da tradição teatral em Itaúna, foi a vocação e o apoio de famílias locais. Um exemplo é a família Gomide. O primeiro deles foi José João, que atuou nas primeiras peças, A Esperteza do Rato e A beata da Mantilha, em 1877. Depois dele, foram mais de 20 membros da família, de seis gerações diferentes, dedicados às artes cênicas. 

 

Tudo isso está no livro "140 Anos da História do Teatro em Itaúna", organizado por Marco Antônio Lara em comemoração à data. O livro será lançado em outubro, em Itaúna, dentro de uma intensa programação cultural que terá ainda a remontagem da peça pioneira na cidade, A Esperteza do Rato, que estreou na cidade em 1877, e a abertura da exposição que apresenta fotos,  cartazes e recortes de jornais antigos e atuais, que testemunham essa história.

 

Programação

 

A programação de comemoração dos 140 anos da história do teatro em Itaúna é a seguinte:

Espetáculo: A Esperteza do Rato - estreia em, 23 de outubro de 2021, no teatro de Bolso do Ponto de Cultura Casa do Idoso, na Fundação Frederico Ozanan, na rua Maria Lima Coutinho, 93 , bairro das Graças.

 

A peça permanecerá em cartaz durante quatro meses, no mesmo local, com espetáculos sempre aos fins de semana.

 

Lançamento do Livro e abertura da exposição, dia 16 de outubro de 2021, às 19:30 h na Praça da Estação. Entrada franca. A distribuição dos livros será gratuita 

 

Exposição (Módulo I) -  Exposição da primeira e segunda fases do teatro em Itaúna - de 16 de outubro de 2021 a 6 de março 2022:

 

Exposição (Módulo I) - Exposição da terceira fase do teatro em Itaúna -

de 2 abril a 2 outubro 2022

 

Horário de funcionamento do Museu: 

 

·         terças e quartas de 8 às 18 horas

·         Quintas e sextas: de 8 às 22 h.

·         sábados de 8 às 17 h.

 

A Esperteza do Rato

 

Farsa em um ato, do dramaturgo português Rangel de Lima (1867). A peça se passa em Lisboa e conta a história de Braz Fernandes, um marinheiro que, tendo ficado viúvo, convida sua irmã Cassimira, também viúva, para morar em sua casa juntamente com a filha Julia, Assim Cassimira poderia cuidar de seu filho Augusto, uma vez que ele sempre saía em longas viagens para o Brasil. 

 

Júlia e Augusto são apaixonados e os pais consentiam no casamento. Um belo dia, Cassimira recebe mensagem do Brasil, informando da intenção do irmão em casar o filho Augusto com uma brasileira rica. Ficava, assim, cancelado o casamento dos primos. 

Inconformado, o casal enamorado recebe ajuda do criado da casa, que cria uma trama para que Cassimira consinta na união de Júlia e Augusto, antes mesmo do retorno de Braz Fernandes. Isto garantiria que, uma vez casados, Braz não poderia desfazer a união do casal já unido em matrimônio, quando voltasse do Brasil.

A farsa percorre o caminho da "esperteza de rato", onde cada ação é seguida de resultados catastróficos, criando situações insólitas, com um final feliz.

 

Ficha técnica: 


Direção: Marco António Lara; Elenco: Léo Tryndade, Gustavo Lopes, Carol Morais, Jerry Magalhães, Regina Glória e Mariara Teles; Figurino: Charles Telles; Cenário: José Lara; Cenotécnico: Márcio Souza; Trilha sonora: Gilbeto Mauro.


O livro


Com 242 páginas a cores, em papel couchê e primoroso projeto gráfico, o conteúdo do livro é baseado em rigorosa pesquisa documental e iconográfica em arquivos públicos, de jornais, de famílias e outros, e complementada por  entrevistas.


Além dos convencionais Introdução e Prefácio, que já adiantam ao leitor um panorama da rica e pouco comum história desses 140 anos do teatro em Itaúna, esse quadro é detalhado em três partes distintas na linha do tempo. O primeiro vai de 1877, quando se registra a primeira apresentação teatral no arraial que se tornaria Itaúna, até 1938. O segundo período vai de 1939 a 1974, e o último, de 1975 a 2017.

 

O livro contém ainda dois anexos. O primeiro, traz documentos históricos oficiais como o registro da história do teatro como Patrimônio Imaterial do Município, como um Saber e um Modo de Fazer a ser protegido e preservado para as futuras gerações. O Anexo 1 traz ainda o Termo de abertura do Livro de Registros dos Saberes do Conselho Deliberativo Municipal de Patrimônio Cultural, Artístico e Ecológico de Itaúna.

 

Já o anexo 2 apresenta interessante relação de todas as peças teatrais encenadas na cidade, desde 1877, com as respectivas fichas técnicas, quando isso foi possível, além de eventos diversos relacionados às artes cênicas, como inaugurações de salas de espetáculos e criação de grupos, sociedades e grêmios.


O livro, organizado por Marco Antônio Lara, tem texto de Glória Tupinambás, projeto gráfico de Laís Reis e Sofia Myrrha Nicodemo, ilustrações e capa de Roberto Marques e reproduções fotográficas dos cartazes de Guto Muniz.



A exposição

 

Com curadoria de José Lara, a exposição reúne cartazes antigos e outros nem tanto, recortes de jornais de época e documentos diversos. Dentre as peças mostradas na exposição, destaca-se o cartaz original da década de 1920, do Grupo de Amadores do Theatro Mário Mattos, devidamente restaurado por Blanche Matos, especialista em restauro de documentos em papel.


A exposição será realizada em dois módulos, cada um abordando diferentes épocas do teatro em Itaúna, e estará aberta ao público durante um ano, no Museu Municipal Francisco Manoel Franco, na Praça da Estação.


O projeto "140 Anos da História do Teatro em Itaúna" tem concepção, pesquisa e coordenação geral de Marco Antônio Lara; apoio à pesquisa da Fundação Maria de Castro, Patrícia Gonçalves Nogueira, Elimar Alves e Charles Aquino; coordenação de produção de Charles Telles e assistência de produção de Márcio Souza.

O projeto tem financiamento pelo Fundo Estadual de Cultura (MG) e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Ferro + e da JMN e apoio da Prefeitura Municipal de Itaúna. A realização é da Associação Cultural Vânia Campos.